terça-feira, 3 de setembro de 2013

É correto rezar o rosário durante a Missa? Ele não desvia a atenção do que é essencial na celebração?

Claro que não! Rezar o rosário é unir-se a Nossa Senhora na contemplação dos principais mistérios da sua vida e de seu Filho. Ninguém melhor do que a Santíssima Virgem para nos ensinar como estar diante da Cruz. Se ela ofereceu suas dores e uniu-se ao sacrifício de Cristo no Calvário, sabendo portar-se como ninguém, e se a Missa é a Cruz tornada presente, unir-se ao sacrifício celebrado com a sua ajuda é uma excelente medida.

Assim, para melhor participarmos da Missa convém, sim, pedir o auxílio de Maria, convém, sim, meditar os eventos da Cruz – que se torna presente na Missa – com a sua companhia. Stabat Mater Dolorosa iuxta Crux lacrimosa! Obviamente, essa ajuda e presença de Nossa Senhora para nos acompanhar quando vamos ao Calvário – a Missa – não ocorre apenas com a recitação do rosário. Podemos suplicar os benefícios da Virgem, para que ela nos ajude a melhor viver a Missa e contemplar os mistérios, de variados modos.

Não estamos aqui dizendo que a recitação do rosário é a melhor forma de participação na Missa, nem que a companhia da Santíssima Virgem para nos ajudar a assistir o sacrifício da Missa só se possa alcançar com essa oração. Nosso intuito é bem outro: mostrar que a reza do rosário não contraria a plena e ativa participação na Missa. É uma dentre tantas maneiras de participarmos do Santo Sacrifício. Se for apenas uma recitação mecânica, estará errada, como também errada será a mera resposta ao padre. Sem embargo, rezar o rosário unindo nossas preces à Virgem, crendo que no altar é celebrado o maior mistério pelo qual somos salvos, a verdadeira renovação do sacrifício da Cruz, pode ser um notável ato de piedade.

“Não poucos fiéis, com efeito, são incapazes de usar o Missal Romano ainda quando escrito em língua vulgar; nem todos são capazes de compreender corretamente, como convém, os ritos e as cerimônias litúrgicas. A inteligência, o caráter e a índole dos homens são tão vários e dissemelhantes que nem todos podem igualmente impressionar-se e serem guiados pelas orações, pelos cantos ou pelas ações sagradas feitas em comum. Além disso, as necessidades e as disposições das almas não são iguais em todos, nem ficam sempre as mesmas em cada um. Quem, pois, poderá dizer, levado por tal preconceito, que tantos cristãos não podem participar do sacrifício eucarístico e aproveitar-lhe os benefícios? Certamente que o podem fazer de outra maneira, e para alguns mais fácil: por exemplo, meditando piamente os mistérios de Jesus Cristo ou fazendo exercícios de piedade e outras orações que, embora na forma difiram dos sagrados ritos, a eles todavia correspondem pela sua natureza.”[9]

Eu, por exemplo, assisto a Missa acompanhando pelo missal, respondendo às orações etc. É um modo muito proveitoso, pois assim conhecemos a rica tradição litúrgica da Igreja, com suas preces belíssimas para cada dia do ano eclesiástico. Contudo, se esse acompanhar das orações não for reflexo de uma profunda fé no caráter sacrificial da Missa, pouco acréscimo espiritual terei. Aqueles que, em vez de lerem no missal as cerimônias prescritas, recitam o rosário, mas o fazem como união, em Maria, ao Cristo que se oferece na Cruz (ou fazem outras orações, como a via sacra, uma meditação etc), estão participando de modo muito mais eficaz da celebração e, portanto, colhem dela muito mais graças, do que os que respondem a tudo, cantam tudo, mas esquecem que a Missa, mais do que Ceia do Senhor, é o seu sacrifício.

O que importa, urge esclarecermos isso, não é tanto entender o conteúdo teológico de cada palavra dita pelo sacerdote ou mesmo respondida pelos leigos – do contrário, a Missa em latim não seria incentivada pela Igreja –, e sim compreendermos o que é que se passa no momento. Muitos sequer assimilam o significado das orações e frases do rito; sabendo, entretanto, o que se passa durante esse mesmo rito, i.e., a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, pode-se colher os benefícios de tão grandioso sacrifício oferecido ao Pai em nosso resgate. E a oração do rosário pode muito bem expressar esse entendimento, essa compreensão – talvez não erudita, mas plenamente aderida ao que acontece no altar – de que a Missa e a Cruz são a mesma coisa.

Se o rosário for expressão de nossa fé no sacrifício e adesão a ele, está excelente! Talvez tenhamos algo a aprender com nossas avós, piedosamente passando por entre as contas do santo terço, unidas, pelo amor a Nossa Senhora, à Cruz de Jesus Cristo celebrada e tornada presente no altar.

O próprio Magistério explicita:

“Impede ouvir a Missa com fruto a recitação do Rosário ou de outras orações durante o Santo Sacrifício?

A recitação destas orações não impede ouvir com fruto a Missa, desde que haja um esforço possível de seguir as cerimônias do Santo Sacrifício.”[10]




[1] Catecismo da Igreja Católica, 1547
[2] Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, de 20 de novembro de 1947, nº 62
[3] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Lumen Gentium, de 21 de novembro de 1964, 28 
[4] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia, de 17 de abril de 2004, nº 12
[5] Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, de 20 de novembro de 1947
[6] São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto
[7] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, de 14 de dezembro de 1963, nº 14
[8] Concílio Ecumênico Vaticano II. Constituição Dogmática Sacrosanctum Concilium, de 14 de dezembro de 1963, nº 26
[9] Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, de 20 de novembro de 1947, nº 98 

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